O Cerco de Constantinopla 1453
- Filipa Araújo

- 29 de mai.
- 8 min de leitura
Atualizado: 30 de mai.
Contexto histórico

Constantinopla foi a capital do Império Romano Oriental ou Império Bizantino, fundado pelo imperador romano religioso Constantino I, também conhecido como Constantino, o Grande, em 324 d.C. O imperador Constantino I foi o primeiro imperador romano a abraçar o cristianismo. Isso tornou-se claramente visível na cidade, especialmente com a construção da maior e mais bela catedral do mundo (mais tarde transformada em mesquita): a Hagia Sophia.
O nome Constantinopla significa «a cidade de Constantino», contudo também era conhecida como a Nova Roma.
A cidade sobreviveu a vários cercos, aos quais resistiu sem grandes problemas. Após uma era dourada entre de 850 a 1050 da arte e arquitetura bizantinos, Constantinopla entrou em declínio.
O Hadith
Mesmo séculos antes da invasão, a ligação entre os muçulmanos e a conquista de Constantinopla não era de todo ignorada, e tinha origem num Hadith de Maomé.
O Hadith proferia:
«eles conquistarão Konstantiniye. Salve o líder e o exército a quem essa boa sorte será concedida».
A cidade ficou sob séria ameaça com a ascensão do Império Otomano (1299 d.C.), todavia nenhum sultão conseguiu conquistar Constantinopla até 1453.
Seria Mehmed (Maomé) II que acabaria por ser o sultão que conquistaria a cidade e poria um fim ao Império Romano do Oriente, estabelecendo uma nova era: o Renascimento.

Sultão otomano Mehmed II
O sultão Mehmed II, também conhecido como «o Conquistador», nasceu a 30 de março de 1432, em Edirne, atual Turquia.
Era o quarto filho do sultão Murad II.
Mehmed tornou-se sultão aos 19 anos, após a morte do pai, em 1451. Mehmed II era diferente dos sultões anteriores que governaram o Império Otomano. O jovem sultão não era apenas um comandante militar competente, com talento para organizar a logística, alimentar, movimentar e dirigir um exército, mas também um estadista perspicaz e um mestre em Astrologia. Era elogiado pela sua capacidade intelectual e pelo seu amor pela literatura e pela arte. A história e a geografia do mundo não lhe eram desconhecidas.

Desenvolveu um grande interesse pela poesia persa e escrevia os seus próprios poemas, era fluente em pelo menos três línguas da época, nomeadamente árabe, turco e persa e sabia ler em latim, grego e italiano.
Desde o primeiro dia do seu reinado, o sultão Mehmed II demonstrou grande vontade de conquistar Constantinopla , e enquanto mestre em astrologia, usou o seu conhecimento para alcancar a vitória e cumprir o famoso hadith.
Estratégias e táticas
A cidade de Constantinopla era muito menor do que a Istambul atual.

A cidade tinha uma forma triangular irregular, com lados ligeiramente curvos. Era protegida por uma tripla linha de muralhas. As muralhas terrestres estendiam-se desde o bairro de Blachernae, no Corno de Ouro, até ao bairro de Studion, no Mar de Mármara. Estas muralhas eram maciças, cada uma flanqueada por torres. As muralhas do lado do Corno de Ouro tinham cerca de três a quatro milhas de comprimento, mas não eram tão resistentes como as muralhas terrestres.
O Cerco
Após um longo período de preparação, tanto por parte dos atacantes como dos defensores, o cerco de Constantinopla finalmente começou em 6 de abril de 1453.
A data do cerco foi escolhida por uma razão: 6 de abril era uma sexta-feira, e a oração de sexta-feira é a mais importante no mundo muçulmano.
Às sextas-feiras, o Dhuhr (oração do meio dia) é substituído com o que se conhece como Salat ul-Jumuah. Que consiste em um sermão curto seguido de uma oração em congregação. A oração de sexta-feira não pode ser feita de forma individual. Por isso, todos os muçulmanos se reúnem em uma mesquita central ou local para orar e escutar o sermão, conhecido como khutbah em árabe.
Após as orações de sexta-feira, os otomanos montaram o seu acampamento a oeste da cidade, ao norte do Corno de Ouro. O cerco começou com um disparo de um dos famosos canhões de Mehmed.
No entanto, o bombardeamento contínuo das muralhas só começou a 12 de abril. Os grandes canhões de Órban causaram enormes danos à densa cidade.

As duas primeiras semanas do cerco não foram bem-sucedidas. Embora a cidade tivesse poucos defensores, ela foi defendida com sucesso. Os ataques terrestres do exército otomano não produziram nenhum resultado promissor. O exército bizantino, liderado pelo capitão genovês Giovanni Giustiniani Longo, repeliu repetidamente todos os ataques dos otomanos.
Navios híbridos?
O jovem sultão estava ciente das suas limitações. Principalmente porque o ataque terrestre, por si só, não seria capaz de derrotar o exército bizantino, Mehmed planeou um ataque naval ativo. Devido à enorme corrente que impossibilitava a navegação até ao Corno de Ouro e o ataque à cidade a partir da fraca muralha marítima, o sultão teve de desenvolver outra tática.

Durante a noite de 21 para 22 de abril, o sultão Mehmed ordenou que os seus navios fossem arrastados por terra, sobre a colina de Galata, até ao Corno de Ouro. Isso permitiu que a marinha otomana disparasse contra o paredão, espalhando ainda mais os defensores bizantinos. Os defensores de Constantinopla foram apanhados de surpresa. Uma jogada militar brilhante do jovem e inteligente sultão.
Os presságios celestes

Entre o povo de Constantinopla havia profecias sobre o fim da cidade.
Uma delas era que o primeiro imperador cristão tinha sido Constantino, filho de Helena; e que o último também teria um nome semelhante.
Em 1453, o imperador era Constantino XI.
Uma outra era que Constantinopla resistiria enquant a Lua brilhasse firme no céu.
Na madrugada de 22 de maio, noite de lua cheia, houve um eclipse e três horas de escuridão. A lua de sangue abateu o ânimo dos defensores de Constantinopla.
No dia seguinte, como se tais presságios não fossem suficientes, toda a cidade foi envolvida por uma névoa espessa, um fenómeno desconhecido naquelas terras no mês de maio.
Quando esses e outros sinais das profecias apareceram, a moral dos defensores piorou ainda mais. Por outro lado, os otomanos acreditavam que esses eram sinais de sua vitória e que em breve Constantinopla capitularia.
A 26 de maio, Mehmed convocou o seu conselho interno. O grão-vizir Halil Pasha insistiu em abandonar o cerco. No entanto, Zaganos Pasha convenceu o sultão de que nunca haveria uma oportunidade melhor para conquistar a cidade se ela não fosse tomada naquele dia.
Muitos dos generais mais jovens levantaram-se para apoiar Zaganos; o comandante dos Bashi-bazouks foi particularmente veemente na sua exigência de uma ação mais forte. O ânimo de Mehmed aumentou e era isso que ele desejava ouvir. Entretanto, uma notícia também chegou a Constantinopla ao imperador Constantino XI de que nenhuma grande frota veneziana de socorro estava a caminho. Eventualmente, o sultão Mehmed prepararia um assalto final.
A conquista
Mehmed desenhou mais uma tática brilhante para terminar o cerco com sucesso.
Na segunda-feira, 28 de maio, visitou as suas tropas e anunciou que seriam dadas recompensas ao primeiro que conseguisse entrar na cidade e avisou que os traidores seriam severamente punidos.
O plano do sultão funcionou e, na manhã de 29 de maio, as tropas otomanas queimaram os seus acampamentos e gritavam que no dia seguinte iriam dormir em Constantinopla.
O sultão comandou um grande e último ataque a 29 de maio. O primeiro e o segundo ataques dos otomanos não foram bem-sucedidos, mas conseguiram enfraquecer os defensores e esgotar suas munições. E, finalmente, ao raiar do dia, o sultão enviou seus doze mil soldados de elite mais bem treinados, os janízaros.
A Astrologia e a Queda de Constantinopla
Muitos astrólogos tradicionais deixaram nos seus textos regras para interpretar Guerras, especialmente em Astrologia Horária e Eletiva. A partir dessas regras em mapas de horária, de eletiva ou mesmo no mapa da Revolução do Ano interpretavam-se muitos detalhes, como a força de um exército, a duração da guerra, a derrota ou a vitória, os traidores e as traições, as munições e armamento, entre outras coisas.
O grande astrólogo medieval Abu Ma'shar deixou regras sobre guerra e fim de dinastias compiladas no seu Kitab al- Milal, o livro da Astrologia das Dinastias e Religiões. Já os astrólogos Al-Biruni, Sahl e Masha'llah referem-se a matéria como: questões sob a condição do Rei.
A questão da guerra seria analisada nos mapas de Ingresso ou Revolução do Ano, no Mapa da Mudança de Triplicidade, nos mapas de Eclipses, só para nomear alguns deles. Muito deste material contém regras para cercos, hoje também designados por bloqueios ( possivelmente embargos também).
Cerco longo ou curto?
Poderá o mapa do início do cerco de Constantinopla dar a resposta a esta pergunta?

De acordo com os astrólogos tradicionais sim. Vejamos então:
Começariam por olhar a lua no início do cerco e se esta se encontrasse num signo mutável indicaria traições e possível guerra.
Aqui a Lua está a 23º57' de Peixes, dodecatemória de Sagitário, ambos signos mutáveis, temos a indicação de um cerco longo que poderia levar a uma guerra ou contar pelo menos com algumas traições. No entanto, culminaria com o ínicio de um novo período.
A Lua tem triplicidade participativa em Peixes, logo indica que o sultão contará também com aliados.
Aspetos da lua:
A lua separa-se de uma quadratura com Marte a 22º20' Gémeos, planeta que significa entre outras coisas, a guerra e os conflitos, e o declínio até ao final das coisas, a destruição da ordem natural das coisas após a sua perfeição e a corrupção da sua regularidade, pode indicar a queda do Império Romano e de Constantinopla.
Esta quadratura confirma a traição de alguns dos seus aliados, a casa 11 é a casa dos aliados, da promoção de alguns destes aliados pelas suas ações, a procura de liderança.
O seu grão-vizir Çandarli Halil Pasha nunca acreditou na vitória de Mehmed e conspirou para que se retirasse, quis que Mehmed aceitasse uma proposta de Constantino XI, porque se crê que tinha feito um acordo com o imperador.
E a Lua aplica-se de seguida a uma conjução a Mercurio, debilitado em Peixes, e a Júpiter dignificado no mesmo signo, ou seja aos mensageiros ou a mensagens ou presságios e aos seus conselheiros ou hadiths: lêem-se os presságios, ouve os seus conselheiros mais fieis e cumpre-se o famoso hadith
O Sol em Carneiro, exaltado e jubilado, é o Sultão.
A 25º12' de Carneiro, encontra-se na dodecatemória de Sagitário, signo do domicilio de Júpiter, e na casa dos mensageiros, dos enviados diplomáticos.
De fato, Mehmed II enviou em várias alturas embaixadores até Constantino XI para que este se rendesse. O último emissario enviado pelo Sultão a Constantino levava a seguinta proposta para a rendição: o imperador e os seus seguidores poderiam levar as suas riquezas e ir para onde quisessem. As pessoas que decidissem ficar poderiam manter os seus pertences e propriedades. Essa oferta também foi rejeitada.
Aspetos do Sol:
Separa-se de um sextil a Marte, na casa dos seus aliados, corrompendo-os, levando-os a atos de traição ou desvio do próposito do cerco.
De seguida, o Sol faz uma oposição a um Saturno a 27º42' de Balança, regente da casa 7, exaltado e retrógrado, e que indica tudo o que é de longa duração, a afastar-se da casa 4, que de acordo com Abu Ma'shar indica a ocupação do território, dos edificios e todos os bens, o desejo de construir mesquitas, honrar os antepassados, os mais velhos e o pai.
De acordo com Teófilo de Edessa ( ca. 695 - 785 d.C) e que foi, tanto quanto sabemos a esta data, um dos astrólogos de guerra ao serviço do Califa abássida
al Mahdi, que o acompanhava nos campos de batalha, Saturno indicava a captura de cidades.
E como Saturno indica relativamente a dinastias, em Astrologia Histórica, o Início das coisas, pode-se interpretar esta oposição como o início do fim de uma dinastia ou Império. Este cerco durou 53 dias, quase 2 meses, a oposição do Sol a Saturno será partil em 2º 30'.
O cerco acaba do dia 29 de Maio de 1453. O ataque final é lançado pouco depois da meia-noite e Constantinopla capitula no início da manhã.
Em breve daremos continuidade a este tema num workshop " O Fim de um Império" sobre o Cerco de Constantinopla, onde analisaremos o Mapa do Início do Cerco, o Mapa do Eclipse da Lua ocorrido durante o cerco, e o Mapa da Queda de Constantinopla
Data do workshop : 2 de julho / 9 de Julho - 19h ( hora Lisboa)
inscrições: moiras.centroastrologia@gmail.com




